quarta-feira, 18 de maio de 2011

Gasolina nas veias.

Motor V8 cabeçudo. Escapes diretos, dois quadrijets saindo pelo capô, diferencial blocante. A receita do demo: é pisar fundo no acelerador em primeira marcha, partindo do repouso, e depois ter um momento de êxtase sentindo a mistura de odores viciantes, com "notas" de gasolina de alta octanagem, metanol, borracha queimada (aaaaahhh, meu deus do céééu), óleo e Bardhal B-12. O nariz arde e os olhos fervem por causa do metanol, mas quem se importa? Tudo isso sem contar a aceleração brutal provocada pelo oceano de torque disponível desde a marcha lenta (mesmo com comandão e lenta 'non eczistindo', tem torque o tempo todo, mesmo).



Nenhuma pessoa é capaz de entender um petrolhead se não outro da mesma 'espécie'. Nós não gostamos de carro, como outros homens, simplesmente. Não somos apaixonados por carro. Não tente, você não vai entender. Carro não é um objeto legal para ajudar a pegar mulher ou para "dar VDO" e cavalo de pau. 

Nós, pobres viciados, só queremos espaço para acelerar. Não é meramente adrenalina. É uma agressividade controlada, assim como o flow é para as bailarinas, por exemplo. É impossível separar carro e piloto, homem e máquina. Durante aqueles momentos de transe profundo, não existe mais nada. Faculdade, contas a pagar, trabalho, consumo de combustível, limites de velocidade, problemas em casa, nada. Só o nosso momento: aquele ronco de motor tomando conta do habitáculo e dominando um raio de bons metros, o cheiro já citado entorpecendo nossos cérebros, aquela adrenalina incontrolavelmente viciante, dominante, potencializadora. Reflexos à beira da perfeição, habilidade nas alturas, toda a comunicação entre estrada, piloto e carro.




Não há nada mais puro que isso. Porém, com as novas tecnologias e exigências de mercado, os carros nos proporcionam cada vez menos emoções. Não há mais aquele contato visceral entre piloto e veículo: ABS, EBD, BAS, ASR, TPS, ESP, PQP. Os carros estão cada vez mais repletos de duendes trabalhando por nós. A geração atual sequer sabe o que é uma freada ao melhor estilo 'treshold-braking', pois seus Hyundais i30 vêm com freios anti-travamento. Porra, que sacrilégio...se o infeliz precisa de um treco desses trabalhando por ele, nem deveria poder dirigir!


É uma pena que eu não tenha dinheiro -por enquanto- para comprar o meu muscle car, o tipo de automóvel mais visceral que existe. É coisa pra MACHO: tem que ter braço pra virar, pra segurar e corrigir, sensibilidade para frear e acelerar, força e delicadeza para passar as marchas. São veículos temparamentais, crus, brutos, puros. Diamantes que não devem ser lapidados demais, apenas apreciados na medida da sua brutalidade.




Bom, como "quem não tem cão caça com gato", procurei o carro que me proporcionasse uma experiência mais pura ao dirigir que fosse possível. Apesar disso, o carro deveria ser barato, relativamente econômico, andar honestamente e ser 0km. Escolhi um Chevrolet Celta. PORRA, UM CELTA?!? Carro de mulher... Nah, meu senhor... já dirigiu um carrinho desses no limite, esticando as marchas até o corte, provocando a traseira em curvas e freando como se sua vida dependesse daquilo? Duvido... Mas pode ter certeza que é um carro que provoca boas emoções em quem o pilota com certa habilidade! Nada de duendes intervindo na minha relação com a máquina, tudo na minha mão. É um carro arcaico? SIM, É POR ISSO QUE EU GOSTO DELE. Tem a essência do dirigir em si. Fora que é o 1.0 mais rápido existente...


(sim, essa marca foi feita por um Celta original sem blocante)



Um dia ainda terei o meu V8, de preferência um big block, devidamente preparado. Sonharei incessantemente até lá...

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